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02/03/2020 | 8 DE MARÇO
Mulher
Balaia, 7 de março de 1999.
Sejamos justas. O homem vem, desde tempos imemoriais, discriminando a mulher. Mas ela também, desde esses tempos, discrimina sua semelhante. Se todas se apoiassem mutuamente, as teríamos mais ocupando cargos políticos, sejam vereadores, prefeitas, deputadas, senadoras, ministras e até presidentas. Uma ressalva: o Panamá, há pouco, elegeu uma presidenta. Que Deus a guarde!
De onde provém essa pretensa diferença? Séculos antes de Cristo, o Código de Hamurábi busca proteger a mulher, comparando a divorciada, a idosa, a enferma. Se há um código garantindo seus direitos, é porque antes não as respeitavam.
Na Grécia antiga, as mulheres viviam confinadas no Gineceu, não votavam nem participavam de reuniões públicas.
No Velho Testamento, depois que Deus criou o primeiro homem, de uma costela fez a mulher. Eva, portanto, foi discriminada pelo Criador e depois acusada de oferecer o fruto do bem e do mal a Adão, que, meio falho de caráter, caiu em tentação. E assim, através dos séculos, muitos seguidores da Bíblia vêm culpando a nossa suposta antepassada pela perda do paraíso.
A maioria dos muçulmanos trata a mulher como ser inferior, que apenas nasce para satisfazer as suas necessidades.
Os faraós se faziam esculpir em estátuas gigantescas e, ao lado de seus pés, ficava a miniatura de sua mulher. Mas houve mulheres que governaram o Egito não atrás dos bastidores, como é usual, porém como rainhas: Hatschepsut e Cleópatra. A primeira, o pai, observando que a inteligência e o preparo da filha eram superiores aos do irmão bastardo, designou-a como herdeira e faraó, em detrimento do filho, que passou o tempo a conspirar... Cleópatra lutou contra o irmão e foi obrigada a usar seus encantos para governar mais alguns anos.
Na Idade Média, era costume as filhas dos nobres, enquanto o pai servia, levarem com o casamento um dote, que passava incontinenti ao marido, que poderia gastá-lo a seu bel-prazer. Esse hábito perdurou até o século passado em algumas sociedades europeias. Depois da morte do pai, o herdeiro, para não dotar as irmãs solteiras, punha-nas em conventos, onde o dote não era muito elevado.
Na Inglaterra, no século XIX, se o nobre morresse sem filho homem, o título e a herança passavam ao descendente masculino mais próximo. As filhas e a viúva ficavam a depender da “caridade” do parente, que às vezes as expulsava da própria casa.
Apesar dos pesares, muitos homens no passado honraram as mulheres. Basta recordar túmulos esplêndidos que foram construídos em sua homenagem. Também serviram de musas inspiradoras para grandes poetas e artistas. Citemos Laura, Beatriz, Dinamene, Natércia etc.
Homens por elas lutaram, roubaram e até se mataram.
Na China atual, tanto eliminaram as crianças do sexo feminino, que no início do próximo milênio não haverá mulheres suficientes para os chinos.
O que penso de nós, mulheres?
Temos qualidades e defeitos – alguém os comentará –; os homens, também... Justifico-me: estou escrevendo sobre nós, mulheres.
No sentido lato, somos grandes ou muito pequenas. Filhas, irmãs, mães, tias, avós, companheiras, enfermeiras, governantas e mestras exercem todas as tarefas dentro e fora da casa. Nem sempre com uma habilitação específica, mas exercem o seu ofício com amor. Heroínas anônimas lutam pelo que mais desejam. Desprendidas ou ambiciosas, o lar é a meta mais importante para a maioria.
Fora, exercem as mais variadas atividades e muitas vezes a remuneração não está de acordo com o seu trabalho. Até as grandes estrelas cinematográficas percebem menos que os astros por um igual trabalho. Por que será?
Um conhecido lapiano assegurou-me que a mulher é inferior ao homem e veio ao mundo apenas para ter filhos, obedecer e servir o marido.
Em que ela é inferior?
A mulher vive mais. Suporta mais dores tanto físicas quanto morais. Tem mais capacidade para amar e perdoar. A inteligência não é menor. É responsável e poderíamos acrescentar outro tanto.
Ela é vaidosa. Abençoada vaidade que movimenta toda uma indústria, empregando milhares de pessoas, fazendo o dinheiro girar e girar.
Para finalizar, posso dizer que ao não ter tanta força física, às vezes apanha do homem insensato. Mas segundo a filosofia chinesa, aquele que bate primeiro não tem razão. Se bate, é porque já não tem mais argumentos.
Aline Dittrich Zappa - escritora paranaense