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17/12/2020 | HISTÓRIA DE NATAL

OBJETOS NATALINOS

Aproximavam-se as festas natalinas. O TRT do Paraná já se encontrava em recesso de final de ano. Porém, serviço em excesso, vários mandados ainda a cumprir, resolvi diligenciar em alguns endereços que possuíam autorização para serem feitos em horário especial, o que incluía o da Drª. M.A, psiquiatra em Curitiba, que possui uma clínica onde realiza perícias judiciais. O dito mandado constava de uma penhora de quaisquer bens ou valor da execução, que na época, totalizava algo em torno de R$ 4.000,00.

 Portando o documento, dirigi-me à Clínica da Drª M.A., a qual se encontrava com a sala de espera lotada de pacientes, pois como perita judicial do Estado, possui grande demanda de atendimento. Cheguei à recepção, anexa à sala de espera, e solicitei falar com a doutora. A secretária perguntou do que se tratava, e eu evitando maiores exposições, apenas disse que necessitava entregar-lhe um documento da Justiça do Trabalho.

A secretária reportou-lhe a informação por telefone, sendo que a doutora insistiu em saber do que se tratava. Então, identifiquei-me com oficial de justiça, comunicando que estava ali para proceder a uma penhora de bens.

Poucos instantes se passaram e uma senhora em fúria adentrou à recepção gritando:

- Você quer levar minhas coisas???

- Pois bem, eu trabalho quase de graça para o governo, e é isso que recebo!!!

Dizendo isso a Drª. M.A. passou a pegar os parcos objetos natalinos que adornavam a recepção de seu consultório, fazendo movimentos no sentido de atirá-los em mim e, enquanto bradava:

Quer levar essa rena??

E a rena subia por sua mão trêmula.

E esse trenó???

O qual passava deslizando entre seus dedos. Até que a desvairada senhora tenta levantar seu pinheirinho e atingir-me com ele. Nesse momento, temendo ser atingida por galhos e bolinhas cortantes, disse-lhe calmamente:

- Senhora, terei que me retirar. Não há condições de conversa nesse momento. Como a senhora me impediu de realizar a penhora, retornarei com auxílio de força policial.

A essa altura, os “pobres pacientes psiquiátricos” da sala ao lado que que assistiram estupefatos a toda a cena possuíam um olhar desolado, que pude ler como:  - Essa é a médica que vai atestar ou não nossa sanidade psíquica. Estamos “fritos”.

 

CLÁUDIA DE CERJAT BERNARDES - Oficiala da Justiça do Trabalho do TRT9

Livro “Cumpra-se!: Causos dos Oficiais de Justiça – Tribunal do Trabalho do PR”

Instituto Memória - 2011